1.4.08

Sol

"Para compreender a dança, é preciso desenvolver, além da espiralada consciência corporal, a coragem de vivenciar profundamente a angústia e o prazer de estar vivo. Não há como decifrar esse código, assim como não é possível fazer arte de espécie alguma, sem a experiência do tesão e da dor. E essa dimensão do dançar se descortina àqueles que ousam mergulhar em si mesmos para além do espelho, numa busca incessante de apreender e fluir com o sentimento do corpo." (Anabel Andrés)



Fico encantada com quem dança... Com quem tem intimidade com o próprio corpo, se movimenta, explora os próprios limites, se expõe, vai além... Deve ser porque tenho uma tendência absurda de esquecer que tenho "corpo". Que existo, da cabeça para baixo.

Parece maluco? Pode ser, mas é a pura verdade.
O pior é que, quando me esforço para me "ver", implico com tudo: com as formas, com os pêlos, celulites, sinais da idade... Busco uma perfeição que não existe e acabo não encarando os fatos.

Nos últimos tempos tenho feito um esforço para me sentir inteira. Para me aceitar. Para cuidar de mim.
Acho que nos útimos anos melhorei muito. Pelo menos entendi algumas coisas, venci alguns bloqueios. Mas acabo me sabotando, engordando, me cobrindo, e desistindo de mim.

Fico tão tensa, dura, rígida que meu corpo fica dolorido ou explode em rosácea, herpes, dores na coluna. Chego a sonhar que estou dentro de uma piscina de água morna e posso me movimentar, me soltar, respirar.

Me sentir querida, acarinhada, tocada tem sido uma experiência reveladora... É muito intenso... e doce, e terno... Leva à entrega... Ao mesmo tempo tenho vontade de me encolher, me cobrir, me fechar, me esconder... É contraditório, é perturbador.
Me emociona a ponto de me fazer chorar. (Tô conseguindo chorar!) É como se cada nó, na minha garganta, ficasse menos apertado, asfixiante.

Na verdade é complicado descrever o que sinto, mas falar sobre isso me faz sentir melhor. Ter consciência do meu corpo deveria ser natural, eu imagino, só que exige um grande esforço.
Mas, quando acontece...
é um mergulho.
é um vôo.
é simplesmente conseguir respirar!
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"Não, meu coração não é maior que o mundo. 
É muito menor. 
 Nele não cabem nem as minhas dores. 
Por isso gosto tanto de me contar."
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(Carlos Drummond de Andrade)
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4 comentários:

isa disse...

guria... eu poderia ter escrito isto! tu és tu ou eu? luta de sempre, esta... adorei a imagem da mulher de pedra se quebrando! beijos!

Anônimo disse...

ana, se eu lhe disser que você tem transmitido ou que eu enxergo exatamente este conflito, sem tirar nem por, em suas fotos mais recentes, você acreditaria?? O que me faz coçar a cabeça é que agora que você tem o Joaquim em sua vida, este sentimento deveria ser cedido, sucumbido, sei lá... mas falo isto ao mesmo tempo em que sei que tê-lo em sua vida acaba sendo um catalisador dessa sensação ambígua.
Boa sorte, mulher!

Ana disse...

Oi, Isa

Vi no teu blog sobre a rosácea. É ruím demais! Nem gosto de lembrar!

A imagem fala por si só!
Mas a gente consegue... É só tomar consciência das coisas, persistir...

Grande beijo!

Ana disse...

Léo
Sendo vc, eu acredito. Nenhuma dúvida.

O que posso dizer é que estas são dificuldades "pessoais e intransferíveis"! Heheheh!

O Joaquim não mudou a forma como me sinto, que é meio cíclica... Vai e volta!

O bom é que com ele me sinto feliz! Ele torna tudo mais fácil, mais simples, mais bonito... Com ele esqueço todas estas coisas. Mas elas continuam dentro de mim, de alguma forma.

Não consigo fazer a razão se sobrepôr ao que sinto. É uma luta árdua!

Obrigada, Léo Por tudo. Sempre!
Um beijo!

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