18.9.06

Não sei chorar



Quando era criança lembro que tentava evitar de chorar, mas não conseguia e pensava: que raio de coisa mais esquisita é essa, que me faz ficar de nariz vermelho, olho ardido e soluçando desse jeito? Fui muitas vezes pra frente do espelho, assistir aquela coisa estranha e tentar entender! E ficava lá, trancafiada, até a vontade passar!
Com o tempo fui desaprendendo.
Já senti muita tristeza de lá pra cá, mas ainda não "lavei minha alma"!
Sinto um alheamento, saio do ar, fico com raiva do mundo, mas não choro!
Muito recentemente as coisas estão mudando: tenho chorado quando tô feliz ou quando alguma coisa me emociona, me toca profundamente. (Fiquei tão impressionada quando isto começou a acontecer que contei aqui!)
Mas chorar de tristeza, "romper o dique", isto ainda não me acontece como deveria ser: força da natureza, como a chuva que desaba sem nada que possa evitá-la! Água boa que carrega num turbilhão tanta dor que sufoca!

Não tô triste, não! Me deu vontade de falar disso depois de ler a Mariana, que contou que chorou três dias sem saber porquê, como chuva torrencial! E, no outro dia, tava cantando e tocando a vida. Provavelmente o motivo que a fez chorar ainda permaneça, mas, depois do choro, ela se reconheceu "céu azul, tarde limpa, vida clara"...
A foto que usei na montagem é do Felipe. (Vale a pena ler, também, o que ele comentou neste post da Mariana.)

11 comentários:

Luiz Felipe Botelho disse...

Poxa, adorei essa montagem.
Sabias que eu choro fácil, Ana? Também passei um tempo sem chorar, depois fiz como você está fazendo, vi que tinha algo precisando de um ajustezinho, uma lagoa transbordando lá por dentro e aí...Já chorei até em restaurante, de repente, por conta de uma ficha que caiu e bateu em lembranças antigas que não foram choradas. Na hora ainda passou o pensamento autocrítico "que feio, um homem chorando na frente de todo mundo". Mas eu respirei fundo, fiquei lá quieto e deixei sair. Ora essa, passo anos tentando localizar onde as dores estão pedindo pra sair e numa hora dessas vir com frescura de que as pessoas vão ver, paciência. "Quem quiser ver que veja, o que precisa sair vai ter esse direito e é agora, na paz: chore, Felipe, eu te garanto".
E é isso aí, Ana. Seja de tristeza ou de alegria, que a gente possa deixar fluir isso em paz.
Brigadão e um beijo pra ti

Ana disse...

Lipe!
Venho de uma família predominantemente masculina! Várias gerações em que os homens sempre foram maioria absoluta! Isto talvez explique a expectativa de controle emocional, de não se deixar a emoção transparecer! Homens sofrem ainda mais, contendo, represando sentimentos que possam ser sinônimos de sensibilidade, fragilidade... Que bom que isto tá mudando!
Te imaginei no restaurante e me deu um nó na garganta...

Anônimo disse...

Nunca tive muito "tempo" para chorar. Fui educado por "cabra-macho do tempo do onça" que achava que chorar é coisa de mulherzinha. Por ironia, meu maior choro incontrolável, daqueles que você quase se asfixia de tanto soluço, foi ao ver o caixão deste mesmo homem seguir sepultura abaixo. Depois de virar "hominho", choro mais de raiva... geralmente meu punho direito fica cerrado e na impossibilidade de socar o motivo da raiva, a lágrima sai para extravazar.

De "quando em vez" não preciso da lágrima...

Anônimo disse...

Eu sou uma manteiga derretida. Choro por tudo: raiva, tristeza e alegria.
Na minha família os homens choram, e isso é tão bom, aliás, todos somos uns chorões. Acho masssa ser assim, pois depois do transbordamento das emoções,a paz reina.

Graziana Fraga dos Santos disse...

Ana
eu choro até quando rio.
não é brincadeira não, choro muito.
brinco que até propaganda de margarina pode me fazer chorar, claro que depende muito da situação em que me encontro.
Acho ótimo poder chorar, depois que choro, parece que limpo tudo de ruim que estava sentindo!
sou uma chorona de carteirinha :)

Zeca La-Rocca disse...

Ana, aqui o coração e o canal lacrimal são vasocomunicantes.
Choro minhas dores, minhas alegrias
e minha raiva!

Lu disse...

Ana, escrevi um texto sobre amizade que vou postar sexta. Mas isto é só pra te dizer que além de ter mil idéias no chuveiro, adoro chorar também. É simplesmente inexplicável, parece que a tristeza vai toda embora junto com a água, é muito bom, ao menos pra mim. Bjs e bom feriado.

Mariana Mesquita disse...

Ai, Ana, fiquei toda boba de ver meu sítio linkado aqui...

Seguinte: eu sou chorona por vida, mas no caso dos últimos três dias eu até sei o que se passou. Meu racional anda correndo léguas na frente do emocional, e como Felipe bem descreveu aí em cima, as fichas de algumas situações só caíram agora...

Foi um choro fisiológico, incontrolável. Até porque não tinha nenhum motivo tão 'grande' pra isso. Choro como a gente chora quando criança, daquele que soluça alto e fica horas com o olho inchado e o diafragma trôpego.

Tou ficando bem.

E tentando entender e aceitar certos insights que tive acerca de mim mesma, e tomar pé no fundo do poço pra respirar com fôlego novo.

Beijo grande pra você.

Rosamaria disse...

Ana,

Eu já passei essa fase, graças a Deuzinho do céu, mas eu chorei muito nessa p... vida! No chuveiro, como a lu tricotando, era quase sempre...agora eu canto e danço.

Não consegui chorar quando a minha mãe morreu. Foi um sufoco tão, mas tão grande, que o dia que "rompeu o dique" não dava pra ver meus olhos, eram uns risquinhos.

Às vezes choro por nada, por ver a cena triste de um filme, uma declaração de amor, até por ler alguma coisa emocionante.

Agora, vindo pra cá, não tenho tempo de chorar, e como disse Luiz Menezes, na declamação de Darcy Fagundes:
"Chorar é pra quem tem tempo,
o tempo é pobre e escasso,
por certo nem a viúva
terá tempo de chorar Pedro Ninguém"

Bjãão, bacana, chora e lava a tua alma.

Bjs.

Naeno disse...

Também não choro. Lágrimas em mim, evaporam. Lembro de mim chorando, sim, recentemtne, um poco mais atraz, chorar não faz bem a alma porque é paradoxal, por ela é quem chora. E a alma sente dores, e prá dores só remédio.

Choro, como todo bicho,
quieto,
meus olhos, num canto, e horo,
choro, na distância, e bem de perto,
do meu amor, pelos olhos.

Choro, agoniado, arrodeado de chorões,
marcando a vida, batendo só nos bordões.
Coro saindo, choro chegando,
choro sorrindo, choro chorando,
ai dor.

Com um beijo,
NAENO
olha o meu blogger, dá uma sugestão. Eu tenho muitas,o problema é que não sei resolvê-las,
www.poemusicas.blogspot.com

Naeno disse...

tiveram uns dois erros na pressa de escrever perdoa.

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