31.7.06

Idade


Reconheço que ando meio delirante. Que a idade madura não me fez ficar séria, centrada, segura, cheia de respostas. Pelo contrário. Me descubro cada vez mais fora-do-padrão. Acho que é mais internamente, e chego a conclusão que sou dissimulada. Penso coisas malucas e ninguém percebe. Nada de grave: me refiro a um senso de humor que não seria bem recebido, ou fantasias que não ousaria contar pra ninguém, ou sonhos por demais juvenis, típicos de adolescentes românticas e desatentas. Ninguém, com um mínimo de bom senso, faria os planos que eu faço. Desconfio que não me levariam à sério se soubessem que fico um tempão esperando pra ver o meu beija-flor, enquanto tenho gavetas para arrumar. Ou que escrevo coisas sem sentido ao invés de listas para o supermercado. Que presto atenção nas nuvens e não na limpeza da casa, que sonho com algodão doce e nem cogito uma dieta balanceada. Que ando acariciando árvores no parque, mas ainda não tive coragem de abraçar nenhuma, porque imagino que seria intenso demais. Não assisto TV e acho que devo estar completamente fora da realidade, mas as más notícias acabam chegando. E acho que vou envelhecer sem entender as razões da guerra e da miséria, em todos os seu níveis. Esperava uma compreensão da vida que a idade não me trouxe, definitivamente. Me desencanto com algumas coisas mas me apaixono por outras. Não me conformo com a mesmice e acomodação e acho que deveria - e seria bem mais simples. Não acho que sentimentos e sonhos possam ser descartáveis. Reconheço que a opção de ficar presa a comodidade de relacionamentos estáveis, de empregos seguros, é tentadora e pode ser uma forma de sobrevivência. Mas o preço é muito alto.
Tenho aprendido a chorar.
E ando com vontade de pegar a estrada e sair por aí, sem roteiro nem data pra voltar.

10 comentários:

Marcia disse...

estamos vendo de que é feito o mundo do bom senso: medo, culpa e sacanagem. e o mundo da seriedade: dor, vergonha e desprazer. e mais culpa.

a estrada te espera, portanto.

Anônimo disse...

Coloca o nordeste no teu roteiro, tá? Aguardo-te!

Zeca La-Rocca disse...

tem carona!?
bjos hehehe

Anônimo disse...

Ana, como a Cidinha falou, coloque o Nordeste no teu "sem roteiro" e lembre-se o Nordeste começa na Bahia. Venha ver onde Jorge foi Amado.

Anônimo disse...

E se o Zeca vier de carona também será bem vindo, preciso de dicas para uma reforminha aqui em casa, alem de ter o prazer de conversar com os amigos.

Telejornalismo Fabico disse...

*

quero os postais dos lugares mais bonitos.


*

Anônimo disse...

Ana, sobre seus sentimentos:
1) Não são tão transparentes quanto você pensa.
2) Não são tão despropositados e atípicos quanto você pensa.
3) Bem-vinda ao clube!

Beijo,

Luiz Felipe Botelho disse...

Incrível como a gente tem dificuldade de acreditar na verdade da gente - aquela que vem lá de bem dentro, essa que vive cutucando você e fazendo você sonhar sonhos que lhe encantam e lhe enchem de vida - quando a gente está cercado de hábitos que fazem a gente crer que o que é da gente só pode estar do lado de fora.
Err... vamos fretar um ônibus?

Anônimo disse...

tia Ana, não acho que deves - e por favor, não faça isso - te acomodar nunca. isso, assim como é simples, é frio, é fraco, é isento de emoções.
eu, sinceramente, sempre gostei de me ocupar, de criar compromissos, de tê-los sempre ali, certos, à minha espera... e quando eu me pergunto se não estou me mandando rumo à mesmice, antes de me martirizar, concluo que não existe coisa melhor que um cotidiano, apesar de cotidiano, feito de diferentes formas, visto de diferentes ângulos, sentido com vontades diferentes, com outro humor. é quase um "mesmo modificado", mas nunca "acomodado".
acomodar-se é coisa de quem não sabe viver, e isso, definitivamente, não é para ti. (e nem pra mim, ainda bem!)
um beijo inconstante. Camila.

Rosamaria disse...

Anabacana

A Camila disse tudo.Vai em frente e sempre seguindo a voz da tua consciência.

Bjããoo

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