Em 1976 fui fazer a Faculdade de Direito em Santa Maria. Meu quarto era em tons de lilás e eu uma menina de 17 anos que gostava de contemplar o mundo pela janela. Dalí via a Rua Venâncio Aires, o casarão onde morava o Dr. Mariano, o relógio da Catedral, as pessoas sempre com pressa....
Em 2005 voltei lá e constatei que agora, quem andava depressa, na minha janela, era o tempo. Eu senti medo, mas não podia me permitir ir até a janela e chorar. Tinha que tomar conta de uma outra menina, mais bonita do que qualquer paisagem, vista de qualquer janela. Sentamos juntas, na frente do espelho, ficamos conversando, e, olhando nossa imagem refletida, me senti profundamente feliz.
O apartamento da minha "fase lilás" não existe mais. Foi vendido.
Já a menina, da janela do quarto lilás, continua dento de mim, por mais que os espelhos mostrem que ela está cada vez mais distante. E é ela, a "minha menina" quem sem vê, agora, na minha filha. Como um reflexo doce, de quem se identifica, de quem compreende, de quem ama.
Sei que ainda vou me deslumbrar em muitas outras janelas. Provavelmente algumas paisagens me convidem a sair. Talvez eu ainda sinta medo. Talvez sinta vontade de chorar.
Mas, qualquer que seja a paisagem e o tempo lá fora, ainda quero me olhar no espelho e não me perder de vista. Não perder a lucidez.
O apartamento da minha "fase lilás" não existe mais. Foi vendido.
Já a menina, da janela do quarto lilás, continua dento de mim, por mais que os espelhos mostrem que ela está cada vez mais distante. E é ela, a "minha menina" quem sem vê, agora, na minha filha. Como um reflexo doce, de quem se identifica, de quem compreende, de quem ama.
Sei que ainda vou me deslumbrar em muitas outras janelas. Provavelmente algumas paisagens me convidem a sair. Talvez eu ainda sinta medo. Talvez sinta vontade de chorar.
Mas, qualquer que seja a paisagem e o tempo lá fora, ainda quero me olhar no espelho e não me perder de vista. Não perder a lucidez.
Me empenho em não repetir a história da minha mãe. Eu e ela nunca sentamos juntas, no espelho. Me dói, cada vez mais, olhar para ela e não a reconhecer. Eu, que passei a vida inteira tentando entendê-la!
6 comentários:
Nossa, Ana!!!!!!!!
Lindo demais...doce, profundo, forte e delicado...uma mistura...
Quem tem filha,
Quem tem(teve) mãe,
Quem sente/cala...entende
Beijocas...
Foi um dia especial mesmo, lembro de te perceber pensativa e emocionada naquela tarde lilás... Que bom que pude estar lá e conhecer essa menina que ainda trazes contigo... Te amo e admiro profundamente!
Lembro-me de um de nossos chats em que você me contou desta sua ida lá... ver as fotos de 78 complementa os sentimentos.
beijo,
Beijo, Queridos...
Tão bom ter vocês!!
Ana, eu não tenho filhos, mas tive Mãe. Entendo você e sei o que vc sente. Tenho postado sobre o tempo e sobre as relações delicadas entre as pessoas e vc tem me acompanhado. Seria bom demaios trocar e.mails sobre esse tema, especialmente com vc. Muitas bjkªsssssssssssss cheias de carinho. Elza
Ana
"Me dói, cada vez mais, olhar para ela e não a reconhecer. Eu, que passei a vida inteira tentando entendê-la"
Só se entende
Quando se olha
Não para o que ela foi
Mas para o que ela é
E como se você fosse ela
Abraço pertubado
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