9.6.06

Copa do Mundo

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Brasil - Uma pátria de chuteiras? Quem sabe?

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Pra mim, tudo começou em 1970. Este foi o ano em que assisti a Copa do Mundo pela primeira vez na televisão. Foi um super acontecimento, e algumas coisas ficaram marcadas. A música, claro, foi uma delas! "Noventa milhões em ação, pra frente Brasil! Salve a seleção!" Era uma corrente pra frente e eu meus irmãos sabíamos a música de cor! Hoje, esta música está associada ao regime militar e à tentativa do governo Médici de capitalizar o sucesso da seleção. Indiferentes a isso, decoramos os nomes dos nossos jogadores e nos concentramos em torcer fervorosamente pela seleção!
Na hora do Hino Nacional descobrimos, emocionados, o que significava ser patriota e ter orgulho da nossa bandeira! Bate uma nostalgia de como me sentia naquela época, daquela alegria ingênua, da torcida desmedida, da gritaria na hora dos gols! Uma experiência nova, vivida em família e que nunca tínhamos experimentado antes! A nossa estréia não poderia ter sido melhor e a seleção ganhou todos os jogos! Euforia total!
Outra coisa que lembro, sempre, é da chegada, lá em casa, bem na hora do jogo, de um casal de primos de meus pais. (Ela, prima da minha mãe, ele do meu pai.) Devo confidenciar, aqui, que ficava muito contrariada com a presença deles, já que sentavam em frente à lareira e ocupavam os melhores lugares para assistirem ao jogo. Sem falar que tínhamos que ficar comportados, contidos, perdíamos a naturalidade. Até hoje me pergunto quem teve aquela idéia, já que eles não eram assíduos, na minha casa. Foram visitas restritas à época da Copa de 70!
E agora, na Copa de 2006, novamente, desconfiamos que o governo queira se beneficiar desta alienação provocada pela Copa do Mundo. Será que tão pouca coisa mudou, de lá pra cá? Será que todas as nossas mazelas ficarão esquecidas durante estes próximos dias?
Não há como ficar indiferente: na TV, predominarão imagens transmitidas, ao vivo, da Alemanha. Veremos um país há pouco destroçado pela guerra, que conseguiu se recuperar e derrubar um muro de diferenças ideológicas. Assistiremos, embevecidos, suas cidades limpas, seus castelos preservados, sua qualidade de vida. Nos orgulharemos do desempenho dos nossos jogadores, alguns saídos dos bairros pobres das cidades brasileiras, como a mostrar, que sempre que têm oportunidade, nossos talentos se sobressaem. Nos emocionaremos, novamente, ao ver estes jogadores cantando o Hino Nacional.
Quem dera pudéssemos estender este sentimento de patriotismo, esta capacidade de torcer pelo mesmo sonho, para outros momentos da nossa vida. Seria uma grande conquista se cada torcedor que acompanha a seleção e que cobra, exige, reclama, esperneia e faz o gol acontecer, se transforme num novo eleitor, que se reconheça como um "cidadão", capaz, também, de acompanhar o governo brasileiro, na gestão dos bens e interesses públicos, e que cobre, exija, reclame, esperneie e faça este país acontecer! Não custa nada acreditar!

8 comentários:

Graziana Fraga dos Santos disse...

Ana,
Seria perfeito que cada torcedor da seleção brasileira, torcesse pelo Brasil da mesma forma e tivesse conciência que o voto é ainda a única arma que temos.
O problema é em quem votar diante de tanta sujeira, contradição e roubalheira.
Adorei teu texto e adoro Copa do Mundo!

Anônimo disse...

Ana... teu blog é simplesmente maravilhoso!!!!! perco a hora, pára tudo quando me sento pra ler as coisas que tu coloca lá!
Parabéns e muuuuuuito obrigada por proporcionar pra mim, esses momentos, que são meus... onde muitas vezes leio coisas que me identifico... que são de todos nós né? afinal tá ali pra todo mundo ler!
Beijo com muito carinho e admiração!!!

Anônimo disse...

Menina,guria!!!!!
Lindo mesmo,parabéns !gostei muito.bjs

Luiz Felipe Botelho disse...

Essas lembranças de infância são demais! A música, o clima antes e depois dos jogos, a família reunida, o país inteiro aparentemente unido. Dá até pra soltar um suspiro nostálgico.

Tua percepção é apurada, Ana. Parece que as coisas vêm em ciclos e lá estamos nós de novo em um momento semelhante. A grande diferença é que não há mais ditadores impedindo os cidadãos de se organizarem e exigirem que os políticos eleitos sejam os primeiros a dar exemplo de cidadania, cumprindo as promessas de campanha e fazendo valer centavo por centavo o gordo salário que recebem. Votar é nosso papel, mas ele não acaba aí - ele começa aí. A gente pode e deve participar da reconstrução da dignidade do nosso país, começando em casa, com os amigos, tipo assim "o que é que a gente pode fazer para mudar o que não está legal?" "o que está ao nosso alcance?" "vamos começar agora?".
Beijão

Anônimo disse...

oi!!!...fiquei curioso pra saber quem eram os parentes da copa de 70 hahahahahah..um bjo!!

Anônimo disse...

Ana,

Comendável seu texto, sua persistência, sua esperança. Infelizmente, para se votar bem é necessário mais inteligência do que para gritar gol, e educação não é exatamente a prioridade do povo brasileiro de uma forma geral e a que há não é assim tão qualitativa. Fiquemos, então, com os gênios da bola. Boa sorte, seleção!

Beijo,

Anônimo disse...

Ana,
Pode parecer estranho,mas não aguento mais ouvir falar em copa do mundo nos meios de comunicação!Até gostava deste festival todo!Mas agora tá me parecendo o tempo da ditadura, do Médice,escalando o time!Acho que deram um lexotan para o povo passar um mês anestesiado,com tanta coisa acontecendo neste país!
O Ronaldo está de parabéns, pode ficar de cama o resto da copa , com febre, bolhas ou ter crises existenciais,porque o gol de placa ele já fez quando respondeu ao presidente!
Bjos

Sandra disse...

Nossa! Eu escrevi exatamente sobre o mesmíssimo tema. Será que foi "transmimento de pensacao"? Se vc quiser ler o que escrevi me avisa, ainda nao foi publicado e posso te mandar por e-mail. Beijo!

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