12.3.06

Uma família tipicamente masculina

Minha avó materna teve dois irmãos homens. Minha mãe também teve dois irmãos homens. Eu repeti a história: meus dois irmãos também, além de homens, sempre foram insuportavelmente machistas (?!). Talvez isto explique muita coisa sobre mim. Há três gerações as mulheres da minha família sobrevivem num ambiente rigidamente masculino, num estado (RS) notadamente machista e numa cidadezinha do interior onde estas questões parecem ser levadas ainda mais à risca!

Três gerações em que as “coisas de mulher” eram secundárias. Não aprendemos a externar características tipicamente femininas: delicadeza, dependência, fragilidade, lágrimas, vaidade e outras frescuras mais. Ir em bando ao banheiro, como a maioria das mulheres adora fazer? Nunca! Trocar de roupa na frente de alguém? Nunca! Falar em menstruação, maquiagem, o que está na moda, pedir roupa emprestada... Pra quem?!

Claro que eu tive amigas, mas naquela época a convivência era mais formal, mais distante... Ou era eu quem sentia assim? Adorava brincar com meus irmãos, jogar futebol, brincar de fazendinha, andar de bicicleta, brincar de carrinhos. Convivia só com eles nas minhas férias, lá fora, então, brincar de bonecas era uma atividade solitária, mas que eu gostava muito. Acho que minha filha, tendo só um irmão, repetiu muito a minha história. Na verdade é mais fácil para as meninas brincarem com coisas tipicamente masculinas do que o contrário.

Sinto que tudo isto influenciou toda a minha vida. Sempre tive mais amigos homens e muita facilidade de me relacionar com estes amigos. Tive muita sorte porque eles tem sido próximos, parceiros, presentes durante a minha vida inteira.

Não sei fazer compras com amigas, ir pra cabeleireiro com elas, e não tenho paciência pra falar sobre temas como empregadas, compras em supermercado (odeio ir ao supermercado!), marcas de roupas, e outras coisas do gênero. Me dá aflição, me sinto absolutamente inábil pra lidar com estas coisas! Odeio comprar sapatos, nunca sei o que está na moda e só uso o que acho confortável.

Ultimamente me disciplinei muito e procurei me informar sobre todo este universo. Mais exatamente quando percebi a Kika quase fazendo quinze anos e se comportando como um moleque: jogando futebol no "morrinho” (um ponto de encontro da gurizada aqui no meu bairro), lutando taekwondo, jogando taco, andando de bicicleta. Sempre vestindo um tênis surrado e abrigo de moletom, sem sem se importar com aparência. E boa de briga como ela só!

E foi justamente observando a Kika se transformar na linda mulher que ela é hoje que descobri que ser feminina é muito mais do que tudo isto que eu falei. E é uma delícia!

6 comentários:

Thelma disse...

Bahhhh....parecia que tava lendo a minha história! Impressionante!

Thelma disse...

Adorei a foto que tu estás entre teus irmaos, com um laço no cabelo...rsss...tá linda!

Anônimo disse...

Ana,

Comigo foi a mesma coisa, ou seja, garoto criado no meio da mulherada. Mãe, irmã, primas, tias... Não tenho do que reclamar!! ;)

Daniela Rey Silva disse...

Sabe Ana, eu sou filha única, mas acabei não desenvolvendo esse lado mulherzinha como deveria (?). Também não gosto de salão, também não gosto de conversar sobre empregada e supermercado. Também não sei o que está na moda e uso o mesmo sapato por meses (se gostar dele) todos os dias. Não tenho explicações, mas sou assim. Até na profissão que escolhi, tipicamente masculina. Mas não me sinto menos mulher por causa disso... de forma alguma. Bjs

Anônimo disse...

Ana!
Estou amando olhar teu blog...tu é muito criativa! Beijo

Renata Miranda disse...

Ana querida, somos parecidas na sensibilidade. Obrigada pelo carinho. Ter te conhecido faz muita diferença na minha vida.

Um beijão!!!

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