Na casa do Anselmo e da Aline.
Delícia!
"Senhor, livra-me das coisas que não tem nada de bom ou ruim, nada de bem ou de mal. Livra-me de tudo que é vazio, sem alma, deserto ou desprovido de encanto. Livra-me do que é isento de magia, sejam pessoas, dias, sonhos, projetos ou afetos. Livra-me dos sentimentos fracos, desses que não têm força suficiente pra chegar quente ao coração. Livra-me dos toques sem sentido, dos abraços frouxos, dos olhares rasos e dos sorrisos amarelos. Livra-me dos se, dos talvez e dos quem sabe, que só servem pra roubar minha atenção, me desviar do foco, me dispersar do objetivo. Livra-me de um vida mais ou menos, dos pensamentos ocos; do trabalho sem paixão; dos amores sem emoção e do café morno! Amém!"
"Se estou envelhecendo, é porque a vida está sendo generosa comigo, já que só não envelhece quem morre cedo. É fácil? Claro que não. Mas é o ciclo natural da vida e gosto de ter chegado até aqui."
"É preciso acolher o envelhecimento, praticar a autoaceitação e acreditar que a passagem do tempo deve refletir crescimento pessoal e uma vida bem vivida."
"O erro mais grave da nossa época é confundir felicidade com prazer.Para os clássicos, felicidade era catarse: o fortalecimento que nasce quando superamos juntos a dor e os desafios inevitáveis da vida. Hoje, porém, acreditamos que ser feliz é viver um fluxo contínuo de prazer - e ainda comparamos nossas vidas imperfeitas com a versão editada e artificial que vemos nas redes sociais.O resultado é essa infinita tristeza que enxergamos hoje em dia: quando o outro não entrega prazer imediato, passa a ser visto como obstáculo, e não como companheiro de jornada. Os relacionamentos se fragmentam, não por falta de amor, mas porque esquecemos que a felicidade real nunca foi ausência de problemas.Felicidade é sentido. É construção. É superação compartilhada.A questão é: você está preso na busca infantil por prazer… ou maduro o suficiente para construir a verdadeira felicidade?"
"A morte dos pais é uma experiência que, mesmo esperada com o passar dos anos, nunca deixa de ser um terramoto silencioso na nossa alma. Quando ambos os pais se vão, e nos tornamos órfãos já adultos, algo muda dentro de nós de forma sutil e profunda. De repente, por mais madura que seja a nossa idade, vemo-nos “despidos” diante da vida. A sensação de pertencer a um lugar seguro desaparece. Não importa quão longa tenha sido a jornada, mas perder os pais é como perder as raízes, o porto, a bússola. É uma dor que vem ao mesmo tempo com um enorme peso e um estranho vazio. Já não há mais aquela voz ao telefone a perguntar se chegamos bem, não há mais aquela casa que, mesmo envelhecida, parecia eterna. Os rituais simples — o almoço de domingo, o conselho repetido, o abraço que parecia curar tudo — tornam-se lembranças que ardem. A orfandade na vida adulta traz uma estranha inversão: a criança que fomos parece despertar, como se estivesse à procura de um colo num mundo que já não oferece mais esse abrigo. E junto disso, vem uma nova camada de solidão: a percepção de que agora somos os próximos na fila, que a geração anterior foi-se, e que nós, queiramos ou não, carregamos agora a tocha da história da família. Não é apenas a ausência física que dói, mas o silêncio do mundo sem aqueles que sabiam quem nós éramos antes mesmo de nos tornarmos adultos. Ninguém mais vai lembrar-se dos nossos primeiros passos, do nosso primeiro dente que caiu, do medo que sentíamos no escuro. Há uma parte da nossa história que morre com eles, e isso deixa uma espécie de luto, que também o é por si mesmo. Mas aos poucos, se houver tempo e amor, o luto encontra um lugar tranquilo na nossa memória. A dor torna-se uma presença delicada. O colo perdido transforma-se numa força que mora bem dentro do nosso coração e, no silêncio que os pais deixaram, começa a nascer um tipo de paz que honra o que eles foram para nós e tudo aquilo que deixaram gravado em nós mesmos."
"Viver muito sempre foi, por séculos, uma raridade quase mítica. Era coisa de avó centenária que conhecia a cura das doenças no cheiro do mato, ou de personagem de romance russo, desses que morriam em São Petersburgo, sob a neve, citando Aristóteles em voz embargada. Longevidade era exceção. Agora virou estatística.Vivemos mais. Isso é fato. A medicina avançou, os antibióticos viraram gente da casa, o colesterol passou a ser vigiado como se fosse um criminoso reincidente. A expectativa de vida subiu, e com ela a ideia, quase ingênua, de que bastaria durar para que tudo desse certo. Mas viver muito não é a mesma coisa que viver bem. E é aí que começa a grande arte.Porque a verdade é que a longevidade chegou antes do manual de instruções. Achávamos que envelhecer seria como alcançar um mirante: olhar para trás com serenidade, cruzar os braços sobre o próprio legado, saborear os frutos de uma vida bem vivida. Mas a velhice, como a infância, exige cuidados diários, e também alguma poesia.O corpo, esse velho cúmplice, começa a dar sinais de que o tempo passou. As juntas rangem como portas de armário antigo, os reflexos hesitam, os músculos se retraem. Mas não é só o corpo que envelhece: às vezes o mundo ao redor também se torna estranho, distante. Os amigos partem, os filhos se dispersam, as calçadas ganham degraus invisíveis. E de repente, o que mais dói não é o quadril, é o silêncio.E então vem ela: a queda.Não só a queda literal, essa que acontece no banheiro, no degrau da padaria, na pressa inocente de atravessar a rua. Mas a queda simbólica: do entusiasmo, da autonomia, da autoconfiança. A queda de uma imagem de si mesmo que antes era firme, decidida, ágil. A queda de um modo de viver que não se encaixa mais no corpo que agora abriga a alma com mais cuidado.A Organização Mundial da Saúde diz que um terço dos idosos sofre uma queda por ano. E essa queda pode ser o primeiro passo de uma jornada difícil: fraturas, cirurgias, internações, perdas, de mobilidade, de independência, de ânimo. Mas veja bem: não se trata de um alerta sombrio. Trata-se, aqui, de um chamado amoroso à reinvenção.Porque o envelhecimento também pode ser reinício. E preparar-se para ele é como preparar um jardim: exige tempo, presença, escolhas. É preciso cultivar força, sim, não para carregar sacos de cimento, mas para levantar-se da cadeira com leveza e poder abraçar um neto sem receio de tombar. É preciso elasticidade, não só nos músculos, mas nas ideias. E é preciso algo ainda mais raro: gentileza consigo mesmo.Não se trata de negar a velhice. Ela chega, queira-se ou não, com suas rugas e suas lentidões, com seus esquecimentos charmosos e suas manias de repetir histórias. Mas há velhices e velhices. E há aquelas que florescem, porque foram cuidadas, porque tiveram sol e sombra, porque foram vividas com afeto, com liberdade, com algum humor.Sim, o humor. Ele é, talvez, o músculo mais importante a ser mantido. Porque rir de si mesmo, das gafes, das perdas de memória, do tropeço nas palavras, é um jeito de desarmar o tempo. O velho ranzinza é um clichê injusto, há velhos encantadores, que dançam bolero na sala com o ventilador ligado e o cachorro olhando desconfiado. Que tomam vinho com moderação e sorvete sem culpa. Que, aos oitenta, aprendem a usar o celular, e ainda erram, mas riem do erro.A longevidade, quando bem vivida, é como uma tarde longa e luminosa. Daquelas em que o sol demora a ir embora e o tempo parece suspenso entre uma lembrança e outra. Não é preciso correr. Nem competir. Basta estar inteiro: corpo e alma em compasso.É isso que propomos aqui: um olhar amoroso para o futuro que já chegou. A velhice não precisa ser sinônimo de decadência. Pode ser plenitude.E envelhecer bem não é luxo, nem sorte, é construção diária. Com passos firmes, com gestos suaves, com a força das pernas e o riso no rosto. Com o cuidado do corpo, sim, mas também com a ternura da memória.Porque o segredo não é apenas viver muito. É fazer da longevidade uma arte íntima, uma coordenação delicada entre o tempo e o desejo.E que, ao final, quando chegar a noite, a gente possa dizer, com lucidez e com alegria - “Foi bom ter vivido tanto. Mas foi melhor ainda ter vivido bem.”"
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"A velhice não precisa ser sinônimo de decadência.
Pode ser plenitude."