15.2.09

Minha mãe

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Vi a gravura de Stina Persson e lembrei desta fotografia da minha mãe, tirada em Porto Alegre, junho/1969! Iguais!
Ela tinha 35 anos e tanta energia, tanta vitalidade, tantos planos! Não parava nunca!! Falava, fumava e gesticulava muito! Ria alto! Não ficava quieta! Aquela energia parecia inesgotável e prometia uma vida sempre assim, movimentada, agitada...
Estas fases se alternavam com depressões profundas, uma tristeza absurda...
Ela só foi diagnosticada como bipolar em 1982. Medicada com lítio passou alguns anos com humor estabilizado, levou uma vida "normal", marcada pelo temperamento forte, intransigente, polêmico, crítico! Entrou em depressão novamente há quatro anos atrás, com duas overdoses de medicamentos, internações em hospital, tratamentos vários, muitos médicos, especialistas em psiquiatria, neurologia, geriatria, química... Desta vez a depressão veio misturada com muita ansiedade, inquietude, agitação... Agravou-se com a perda do filho mais novo.
Difícil acreditar na vida que ela está levando. Quieta, dependente, triste, magoada, rancorosa, queixosa, infeliz...
Estive com ela em Lavras, agora. Está completamente isolada, no seu mundo particular, aprisionada na sua doença e no seu próprio corpo - que é só no que ela presta atenção. Se vai comer, ir ao banheiro, dormir... Simplesmente ela não consegue se concentrar em nada que não seja seu bem ou mal estar, seus sintomas, sua doença, suas tristezas...
É difícil de entender o que se passa com ela. Lembra de tudo, sabe o que está acontecendo mas não interage, não reage. Fica indiferente. Espera que a cura venha dos remédios, de médicos, pede para ser hospitalizada... Quem dera isso pudesse ajudar! Tudo já foi tentado - e continua sendo!
Nos raros momentos em que assiste TV ou se liga em alguma coisa, parece bem. Mas são momentos breves e ela volta a se fechar na sua doença.
Onde se escondeu a Dona Célia?

12 comentários:

antes que a natureza morra disse...

Que texto pungente, Aninha !
E melancolicamente perquiridor também.
É triste ver que nossos adultos entraram numa situação patológica, em involução senil, e nós estamos ficando os adultos que eles foram.
Beijo

JP

Beth/Lilás disse...

Ana,
Realmente o caso de sua mãe é muito triste, mas coitada, é uma doença e isso só melhora com vontade própria e muita terapia. Ela não quer isso, por esta razão sofre e vocês também. Sei como é isso, pois temos na família alguém mais ou menos desse jeito. É difícil!

Enquanto isso, minha mãezinha acaba de quebrar o mesmo pé de ano atrás e amanhã já vem prá cá para eu cuidar dela. Tadinha, nesse calor e ela com aquela bota ortopédica, mas ao contrário tem muita vontade de viver e o coração bondoso e tranquilo.

Força para você e seus irmãos aguentarem esta situação!
bjs cariocas

Rosamaria disse...

Ana
Difícil imaginar a Célia como a descreves agora. Penso nela como antes, pois nunca mais a vi. É difícil, minha amiga, mas faz o que puderes por ela enquanto ela estiver aqui.
Bjim.

Blog do Beagle disse...

Ana, fiquei sem palavras diante desse retrato que vc pintou. Tenho muita dificuldade nesse assunto "mãe" e prefiro me calar. Sinta-se abraçada e acarinhada. Envie uma bjkª especial apra ela. Elza

Anônimo disse...

olá ana,
sempre leio seu blog, vc escreve coisas que realmente nos faz refletir, incrivelmente o que ecreveu sobre sua mãe é identico a minha...triste, porém real.
Fico a pensar...não sei o que fazer, nem como ajuda-la, minha mãe é tem 52 anos, sofre de sindrome do pânico há 8 anos...muito triste... espero um dia no futuro mais próximo poder entender tudo isso..
beijos
ana becca

Ana disse...

Oi, Professor!
Pois é... A gente precisa prestar atenção para tentar não repetir os erros, evitar as doenças...
Deus vai me ajudar e eu não vou ser uma velhinha triste, não!
:)

Ana disse...

Rosinha
Tu não imagina a dificuldade que virou conviver com ela...
A mãe nunca foi fácil! Mas antes ela parecia forte, me acostumei a discutir com ela - raramente concordávamos!
Mesmo na doença, tudo o que ela faz ou diz me deixa indignada! E sinto tanta culpa...
Os médicos dela é que me ajudam a entender e tocar a minha vida, sem misturar a doença dela, sem ficar lá, paralizada...
É muuuuito difícil! Muito triste!
(A família adoece junto...)

Ana disse...

Entendo vc, Elzinha
Só lido melhor com isso pq tive muita ajuda...
Talvez vc precise de terapia, para se libertar de toda a mágoa, para perdoar...
A gente cresce acreditando que relações mãe&filha são sempre amorosas, perfeitas...
Dói muito...

Ana disse...

Oi, Ana
Vou falar da minha experiência: vc precisa "entender" que a doença dela não inclui vc. É a história dela. São escolhas dela...
Vc pode ajudar, mas não deve ficar paralizada no sofrimento da tua mãe.
Viver tua vida de forma saudável é importante demais, até para vc poder ajudá-la, sem ressentimentos ou cobranças.
Procura ajuda e cuida de vc, para poder estar do lado dela sem a sensação de estar adoecendo junto.
Ela vai sair dessa! É jovem! Pode acreditar!
Beijo!

Ana disse...

Beth!
Pulei o teu comentário!
Acabo ficando com um nó na garganta...
O que eu ia falar é que as pessoas acham que ela não "quer" melhorar, porque a perda do meu irmão é uma dor tão insuportável que ela escolhe ficar doente, sedada, fora da realidade...
É muito triste...
O que vc falou sobre a tua mãe encheu meu coração de alegria! É assim que espero ser vista pelos meus filhos!!
Beijo grande!

Anônimo disse...

OI ANA.
VOLTEI AO PASSADO. LEMBRO BEM DA CÉLIA EXTROVERTIDA, ALEGRE, COMUNICATIVA. UM ESTILO DE MULHER FORTE. UMA DAS ÚLTIMAS VEZES QUE ESTEVE AQUI ALMOÇAMOS JUNTAS, VIMOS FOTOS ANTIGAS PRINCIPALMENTE DOS PARENTES EM COMUM.
... AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ.

Ana disse...

Oi, Eliana
Bom relembrar desta época!
É realmente muito difícil de conviver com a doença dela, justamente por toda aquela vitalidade e alegria!
Felizmente ele melhorou bastante, nos últimos dias!
Esperanças renovadas...
Grande beijo!

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