"Eu me perco no tempo vasculhando fotos no Orkut. Não é qualquer imagem. Corpos convidativos, cenas de filmes, ícones da música... esse universo não me interessa - pelo menos na maioria das vezes. O que procuro neste paraíso dos voyeures plugados é o bibelô, o quadro com paisagem, a foto do casamento adornando a prateleira, o guardanapo pendendo sobre a borda da televisão, o prato de maionese no centro da mesa do almoço dominical, o dedão sobressaindo-se no chinelo, a gargalhada da tia gorda, o muro descascado a estabelecer os limites do quintal onde a festa acontece, as cerâmicas compradas em promoção que substituíram o assoalho carcomido, os potinhos em cima da geladeira, a vassoura encostada rente à porta, a cortina de plástico com os vestígios do último banho, a cômoda repleta de escovas e perfumes comprados em catálogos distribuídos pela vizinha, a cadeira de plástico na varanda, o lençol estendido no varal, os bonés que promovem qualquer coisa na cabeça de senhores de barba por fazer, a rachadura da parede, as folhas de violeta plantadas em potes de margarina para gerar novas mudas, a umidade que brota do chão e tinge o reboco, as estampas sacras que reafirmam uma noção de fé...
Gosto de admirar a autenticidade, a simplicidade compulsória, a vida sem afetação, a ausência de bom gosto forjado em editoriais de moda, a vigência da criatividade, a cena prosaica."
Gosto de admirar a autenticidade, a simplicidade compulsória, a vida sem afetação, a ausência de bom gosto forjado em editoriais de moda, a vigência da criatividade, a cena prosaica."
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