18.7.08

The fallen butiás out of my pockets!

Traduzindo: "Me caiu os butiá dos bolso!" Hehehehe!
:)
Esta expressão não significa, rigorosamente, coisa nenhuma! Quer dizer, é engraçada, mas completamente sem sentido!
Só que, aqui no Rio Grande do Sul, é usada para expressar espanto com algo inusitado. Simples assim. Sem plural nos butiá nem nos bolso!!
.

Estas fotografias, aí de cima, são do "Rancho da Cachoeira", casa dos meus avós maternos, Augusto e Electra. Foi lá que a minha mãe cresceu e era onde eu passava as minhas férias de verão. Quando eu tinha uns 5 anos meus avós se mudaram para a casa nova, que construíram num lugar próximo, e o rancho, de barro, existiu (ou resistiu) até pouco tempo. Bem perto dali tem uma pequena cachoeira "encravada" na pedra e era uma delícia tomar banho na água que se represava logo abaixo.

Sempre ia tomar banho lá, à cavalo, com meu avô. No trajeto incontáveis butiazeiros, com seus cachos alaranjados atraindo os pássaros e as abelhas. Lembro do zumbido nos meus ouvidos, do capim alto no chão e do forte calor, até cairmos na água!

O Vô Augusto era uma pessoa formidável e eu já sabia disso, desde sempre. Aproveitei cada segundo da sua companhia. Abria mão das férias em Lavras para ficar com eles, lá fora, mesmo durante a minha adolescência - época de bailes, namoros e outros atrativos, na cidade..

Ele fumava palheiro, contava histórias, não parava um segundo, a não ser para "sestear" depois do almoço. Tédio absoluto até ele acordar e começar tudo de novo.

Saíamos para campo, à cavalo e ele ia ensinando tudo. Sem simplificar, sem banalizar, de uma forma inteligente e fácil de entender.

Ele tinha uma carpintaria com todas ferramentas possíveis! Fazia brinquedos de madeira para mim e me deixava mexericar, desde que devolvesse cada instrumento para seu devido lugar. E fazia palitos! Desses de pôr em salgadinhos! Heheheh! Fabricava milhares deles, todos os dias um pouco depois do almoço e outro tanto depois do jantar! Presenteava os amigos, sempre!

Tinha uma horta linda! Plantava de tudo, de forma ordenada. Os canteiros retinhos, tudo brotando da terra preta e indo direto para a cozinha! Eu ajudava a regar, prestava atenção nas formigas e nas etiquetas cuidadosamente colocadas em cada tipo de verdura ou legume.
Tomates imensos, vermelhinhos, era o que eu mais gostava! Mas aprendi a gostar de quiabo, de vagem, alface, couve...

Meu avô "fabricava" extrato de tomate (era como ele dizia) e conservas de pimenta. Fazia linguiças e presunto defumado e eu adorava acompanhar todo aquele processo. E fazia "Butiazol" - uma espécie de licor com cachaça e butiá, claro!

Já a minha avó deixava eu dar milho para as galinhas e me ensinava a fazer manteiga. A comida era deliciosa! Tinha sempre muitas frutas e pão de casa! Saudade do chocolate quentinho que ela me levava na cama, de manhã!! Ah! E ela me contava histórias, que eu adorava. E aproveitava para dar conselhos! E recomendações!!

O Vô dizia "pode"! A Vó dizia "cuidado"!! Era ela quem impunha os limites, as regras! Hehehehe!
Nós fazíamos pandorgas (pipas), e eu via o vô tirar leite, e ele me ensinava sobre o barômetro, e termomêtro, e mercúrio, e satélites, e jogávamos damas, e colhíamos frutas e caminhávamos quilômetros na volta da casa naqueles dias intermináveis!! E, lá pelos meus 13 anos, o Vô me ensinou a dirigir e saíamos de fusca a visitar os vizinhos (adoráveis!) e eu era a pessoa mais feliz do mundo!!

Claro que me perdi e fugi completamente da história dos butiás! Ia contar que os butiazeiros estão com risco de extinção e que isso me fez lembrar da minha infância!
Outro dia conto mais. Tenho fotos da cachoeira, do rancho... Agora me deu um nó na garganta e uma saudade absurda de tanta coisa boa e da doce lembrança dos meus avós!!
.

Li, sobre o risco de extinção dos butiazeiros no Diário Popular:
"O butiazeiro integra a lista de espécies ameaçadas de extinção, conforme o Decreto Estadual 42.099/2003. A maior concentração da palmeira, que cobria toda a área limítrofe à Lagoa Mirim, era no município de Santa Vitória do Palmar. Hoje, a concentração da frutífera é bastante escassa, devido ao avanço de atividades agrícolas, como o arroz irrigado, e da pecuária. O butiazeiro (Butia capitata) é uma frutífera e se constitui em espécie nativa do Rio Grande do Sul. Seus frutos se prestam tanto para o consumo in natura quanto para o preparo de sucos, licores e sorvetes. A polpa do fruto possui em média 39,13 miligramas de ácido L-ascórbico (vitamina C) em cada 100 gramas. O ciclo, número de dias entre a floração e a colheita, é de aproximadamente 85 dias. A floração ocorre de novembro a março e a colheita dos frutos se estende de fevereiro a junho."


Mais histórias: Castigo

3 comentários:

Lu disse...

ha... adorei.
há muito tempo não vejo butiá por aí. ainda existe? quando eu era pequena, tinha no meu pátio... que saudadesss.

Lu disse...

ha... não resisti passei aqui e roubei esta bonequinha...hehehehe
bjs

Ana disse...

Que bom Luiza!
Beijo enorme!
Também adorei a bonequinha da Suzana Massini!

Related Posts with Thumbnails