Deu na Folha:
"Espinafre prejudica a absorção de ferro!"
Imediatamente lembrei de uma crônica do Luiz Fernando Veríssimo, que é perfeita:
"Ovo"
Agora essa. Descobriram que ovo, afinal, não faz mal. Durante anos, nos aterrorizaram. Ovos eram bombas de colesterol. Não eram apenas desaconselháveis, eram mortais. Você podia calcular em dias o tempo de vida perdido cada vez que comia uma gema.
Cardíacos deviam desviar o olhar se um ovo fosse servido num prato vizinho: ver ovo fazia mal. E agora estão dizendo que foi tudo um engano, o ovo é inofensivo. O ovo é incapaz de matar uma mosca.
Sei não, mas me devem algum tipo de indenização. Não se renuncia a pouca coisa quando se renuncia ao ovo frito. Dizem que a única coisa melhor do que ovo frito é sexo. A comparação é difícil. Não existe nada no sexo comparável a uma gema deixada intacta em cima do arroz depois que a clara foi comida, esperando o momento de prazer supremo quando o garfo romperá a fina membrana que a separa do êxtase e ela se desmanchará, sim, se desmanchará, e o líquido quente e viscoso escorrerá e se espalhará pelo arroz como as gazelas douradas entre os lírios de Gileade nos cantares de Salomão, sim, e você levará o arroz à boca e o saboreará até o último grão molhado, sim, e depois ainda limpará o prato com pão. Ou existe e eu é que tenho andado na turma errada. O fato é que quero ser ressarcido de todos os ovos fritos que não comi nestes anos de medo inútil. E os ovos mexidos, e os ovos quentes, e as omeletes babadas, e os toucinhos do céu, e, meu Deus, os fios de ovos. Os fios de ovos que não comi para não morrer dariam várias voltas no globo. Quem os trará de volta? E pensar que cheguei a experimentar ovo artificial, uma pálida paródia de ovo que, esta sim, deve ter me roubado algumas horas de vida a cada garfada infeliz. Ovo frito na manteiga! O rendado marrom das bordas tostadas da clara, o amarelo provençal da gema... Eu sei, eu sei. Manteiga ainda não foi liberada. Mas é só uma questão de tempo."
Veríssimo tinha razão! A manteiga foi absolvida de todas aquelas acusações. Acabo de ler no blog da Lu:
"Nelson Rodrigues contava que, toda madrugada, acordava com a úlcera em chamas e, de pijama e meias, ia à cozinha tomar um copo de leite para aplacá-la. Com o leite, a úlcera amansava e, dizia, só faltava ronronar como uma gata amestrada. Nelson morreu em 1980, de outras causas. Imagino seu choque, hoje, se soubesse que, segundo as últimas descobertas da ciência, leite é um veneno para quem tem úlcera.
E a manteiga? Depois de séculos sendo louvada, com justiça, como uma das maiores invenções do homem, levou os últimos 50 anos acusada de vilã para vários órgãos, inclusive o coração. Para a ciência, boa mesmo era a insípida, insossa e inodora margarina. Agora a mesma ciência, num lance de gênio, concluiu que a margarina é que é a vilã, por causa da mortal gordura trans.
E temos a saga e anti-saga do ovo. Certo dia, decretaram que ele era o pior inimigo do colesterol e do coração, e só faltaram proibir as galinhas de produzi-lo. Pois, há pouco, descobriram que, ao contrário, ele faz bem ao coração, porque ajuda a emagrecer, não influi no colesterol e até protege nossos olhos dos raios ultravioleta - o que é ótimo, porque nos permitirá ir à praia sem óculos escuros.
Sem falar no café. Por conter cafeína, ele também já freqüentou todas as listas negras. Criaram inclusive o café descafeinado. Pois os cientistas vêm de concluir que a cafeína é uma maravilha: estimula o sistema nervoso central, o coração, os vasos sangüíneos e os rins. Já o café descafeinado faz subir a pressão e aumenta o colesterol e o risco de doenças cardíacas.
Finalmente, esta semana, a ciência mandou dizer que, ao contrário do que ela própria afirma há anos, o açúcar é uma beleza e são os adoçantes que engordam! É o maravilhoso samba do cientista louco, em cuja letra certeza rima com dúvida.
Fonte: Folha de SP, em 18/02/2008"
Quer saber? Vou ali ver como está meu estoque de chocolate e já volto! Humpf!
"Espinafre prejudica a absorção de ferro!"
Imediatamente lembrei de uma crônica do Luiz Fernando Veríssimo, que é perfeita:
"Ovo"
Agora essa. Descobriram que ovo, afinal, não faz mal. Durante anos, nos aterrorizaram. Ovos eram bombas de colesterol. Não eram apenas desaconselháveis, eram mortais. Você podia calcular em dias o tempo de vida perdido cada vez que comia uma gema.
Cardíacos deviam desviar o olhar se um ovo fosse servido num prato vizinho: ver ovo fazia mal. E agora estão dizendo que foi tudo um engano, o ovo é inofensivo. O ovo é incapaz de matar uma mosca.
Sei não, mas me devem algum tipo de indenização. Não se renuncia a pouca coisa quando se renuncia ao ovo frito. Dizem que a única coisa melhor do que ovo frito é sexo. A comparação é difícil. Não existe nada no sexo comparável a uma gema deixada intacta em cima do arroz depois que a clara foi comida, esperando o momento de prazer supremo quando o garfo romperá a fina membrana que a separa do êxtase e ela se desmanchará, sim, se desmanchará, e o líquido quente e viscoso escorrerá e se espalhará pelo arroz como as gazelas douradas entre os lírios de Gileade nos cantares de Salomão, sim, e você levará o arroz à boca e o saboreará até o último grão molhado, sim, e depois ainda limpará o prato com pão. Ou existe e eu é que tenho andado na turma errada. O fato é que quero ser ressarcido de todos os ovos fritos que não comi nestes anos de medo inútil. E os ovos mexidos, e os ovos quentes, e as omeletes babadas, e os toucinhos do céu, e, meu Deus, os fios de ovos. Os fios de ovos que não comi para não morrer dariam várias voltas no globo. Quem os trará de volta? E pensar que cheguei a experimentar ovo artificial, uma pálida paródia de ovo que, esta sim, deve ter me roubado algumas horas de vida a cada garfada infeliz. Ovo frito na manteiga! O rendado marrom das bordas tostadas da clara, o amarelo provençal da gema... Eu sei, eu sei. Manteiga ainda não foi liberada. Mas é só uma questão de tempo."
Veríssimo tinha razão! A manteiga foi absolvida de todas aquelas acusações. Acabo de ler no blog da Lu:
"Nelson Rodrigues contava que, toda madrugada, acordava com a úlcera em chamas e, de pijama e meias, ia à cozinha tomar um copo de leite para aplacá-la. Com o leite, a úlcera amansava e, dizia, só faltava ronronar como uma gata amestrada. Nelson morreu em 1980, de outras causas. Imagino seu choque, hoje, se soubesse que, segundo as últimas descobertas da ciência, leite é um veneno para quem tem úlcera.
E a manteiga? Depois de séculos sendo louvada, com justiça, como uma das maiores invenções do homem, levou os últimos 50 anos acusada de vilã para vários órgãos, inclusive o coração. Para a ciência, boa mesmo era a insípida, insossa e inodora margarina. Agora a mesma ciência, num lance de gênio, concluiu que a margarina é que é a vilã, por causa da mortal gordura trans.
E temos a saga e anti-saga do ovo. Certo dia, decretaram que ele era o pior inimigo do colesterol e do coração, e só faltaram proibir as galinhas de produzi-lo. Pois, há pouco, descobriram que, ao contrário, ele faz bem ao coração, porque ajuda a emagrecer, não influi no colesterol e até protege nossos olhos dos raios ultravioleta - o que é ótimo, porque nos permitirá ir à praia sem óculos escuros.
Sem falar no café. Por conter cafeína, ele também já freqüentou todas as listas negras. Criaram inclusive o café descafeinado. Pois os cientistas vêm de concluir que a cafeína é uma maravilha: estimula o sistema nervoso central, o coração, os vasos sangüíneos e os rins. Já o café descafeinado faz subir a pressão e aumenta o colesterol e o risco de doenças cardíacas.
Finalmente, esta semana, a ciência mandou dizer que, ao contrário do que ela própria afirma há anos, o açúcar é uma beleza e são os adoçantes que engordam! É o maravilhoso samba do cientista louco, em cuja letra certeza rima com dúvida.
Fonte: Folha de SP, em 18/02/2008"
Quer saber? Vou ali ver como está meu estoque de chocolate e já volto! Humpf!
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