Banho "de cruzadinha"!

Nem sei exatamente o que fez me lembrar do Ceceu. Talvez a foto do Acampamento Velho tenha desencadeado tantas lembranças ou, então, foi o frio que anda fazendo por aqui, nos últimos dias!
Sempre conheci o Ceceu, e lembro nitidamente do contraste do sorriso de dentes brancos com sua pele negra, queimada de sol e das mãos rudes, do trabalho no campo.
Contador de histórias, ele sempre trabalhou com meu avô e com a nossa família, como peão de estância, e, quando mais velho, inventou uma aposentadoria à sua moda: perambulava pelas fazendas dos meus tios e pela do meu pai. Chegava, era recebido com festa e muita alegria, passava uns dias sentado pelo galpão, tomando mate e jogando conversa fora. Ele sabia tudo de todo mundo e não tinha papas na língua! Era muito engraçado!
Quando cansava daquele lugar, encilhava o cavalo e ia pra casa de outro filho do "Velho Valério".
Passou anos assim, de casa em casa, sempre hóspede querido e bem vindo, e as coisas que ele contava foram virando folclore.
Só que o Ceceu não era muito chegado a tomar banho, principalmente no inverno, quando a geada demorava a levantar e o sol aparecia muito tarde. Tinha que haver uma certa "pressão" pra ele cair na água!
Um dia ele chegou lá em casa, numa destas fases, e meus irmãos providenciaram fardamento inteiro, limpinho, pra ele se trocar: meias, cueca, bombachas, camisa, blusas de lã, toalha de banho, sabonete e empurraram o Ceceu pro banheiro.
Não deu 10 minutos e o Ceceu apareceu todo de roupa nova, bonito como ele só!
Meus irmãos, que já tavam fazendo churrasco e se preparando pra ouvir as conversas do Ceceu o intimaram sobre o banho e ele respondeu:
"-Bahhhh! Tá muito frio!! Tomei só um banho "de cruzadinha"!!E foi se sentar na beira do fogo...

Até hoje, lá em casa, quando alguém tem que tomar um banho rapidinho, usa esta expressão!