Acordo devagar. Me arrasto até o banheiro, me olho no espelho. Encarar outro dia que começa, minha cara, minha idade, minhas rugas. Enfrentar a real/idade, cronológica, sem lógica, sem sentido. Constatar que a cara que vejo no espelho não é a cara que eu sinto que tenho. Tenho outra, por dentro, cheia de idéias e de liberdades, cheia de manhas e de voltas no corpo! Cheia de dengos e de vontades. Por dentro sou leve, sou livre, desbocada, destemida. Por dentro não me acanho, não me escondo, não me cubro. Ah, do jeito como me vejo, não tenho bloqueios, nem medos, nem perco tempo com bobagens. Me aceito, me entendo, me permito, me libero. Penso coisas que até Deus duvida! Por dentro fico meio de pileque, acho graça de tudo, me espreguiço, me insinuo. Sou desassossegada, sou atirada, sou mulher fatal, faço caras e bocas. Por dentro sou bicho, sou fêmea, sou cheiro de capim. Sou instinto. Sou sangue e suor. Por dentro ardo. Por dentro desejo. Suspiro. Volto a me olhar no espelho, banho tomado, dentes escovados e sorriso colgate e me contenho pra não rir alto! E vou para a cozinha, água no fogo, café, chuva batendo na janela em mais um dia que começa.
30.5.06
Eu e o espelho
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Que tal deixa o interior vir à tona?
Seus textos têm muita vida, Ana! Belos! É a tal da lente-coração fazendo a conexão alma-teclado. Também gostei muito da composição que você fez com suas fotos no topo do texto. Passa a idéia da mente pensando e da emoção fluindo, no movimento de foto para foto, nas expressões, nos olhares. Como sinto falta dessa vida nos palcos que trabalho, é tudo tão formatado, poesia de receituário, clichês eruditos... Me encanto quando me deparo com essa força aqui, na realidade, assim, se expressando, fluindo, intensa. Isso é alma! É muito inspirador e eu te agradeço.
Ana, você tem que deixar o seu interior aflorar!
Abaixo o controle, menina! Viva ntensamente que não vai se arrepender. O máximo que pode acontecer é quebrar a cara de vez em quando, mas prepare-se para isso e viva.
Bjus
Amei o texto.
Postar um comentário