Fala-se muito no homem do campo e não poderia ser diferente. Nos acostumamos a vê-lo em cima de um cavalo, cuidando do gado, tomando decisões, administrando as propriedades, sempre à frente dos negócios da família.Mas e a mulher? Onde ela se encaixa dentro desse universo rude, bruto, cheio de riscos e dificuldades?As de antigamente, fechadas em suas casas, criando filhos, cuidando das tarefas domésticas, costurando, fazendo doces... Com raras exceções, se mantinham à margem dessa vida no campo.Mas isso foi mudando. As mulheres foram saindo dos seus casulos. Aprenderam a montar, a cuidar do gado, a administrar. A trazer todo o seu universo feminino para além de suas casas. Se apropriaram de um espaço que, talvez, sempre devesse ter sido seu. Deram voz aos seus sentimentos, sua intuição, seu jeito mais suave de ver as coisas...Mais do que lares acolhedores, casas limpas, com cheiro de bolo, agora vestem suas botas e pisam firme num chão que também sabem amar e tornar produtivo.Somos resilientes. Conseguimos conciliar força e delicadeza. Aprendemos a pôr comida na mesa da nossa família, por isso temos a compreensão da importância de produzir alimentos, gerar riqueza, evitar desperdícios...Se antes o ritmo era lento, as estações demoravam a passar, a vida girava em torno de esperas, agora são outros tempos. Do digital, da comunicação instantânea, da informação em tempo real, das redes sociais, das influenciadoras do agro, da infinidade de notícias e, também, de desinformação e romantização da atividade rural.Então precisamos nos posicionar, ter o pé no chão, aprender a administrar nossos negócios, nos tornando cada vez mais qualificadas, atuando num lugar que exige disciplina, coragem, aprendizado, capacidade de superação e adaptação. E nisso, somos especialistas. Porque geramos vidas, administramos lares. Entendemos de ciclos, de crescimento, de fertilidade e, até mesmo, sabemos a hora certa de escolher novos caminhos, inovar, sermos criativas.Somos mulheres do campo e sabemos florescer, mesmo na terra mais dura. O campo pode ser feminino, como a terra que lhe dá origem. Com delicadeza. E força.
Escrevi este texto com sentimento de gratidão.
À minha família, pelos exemplos e por poder estar onde estou, por tudo que isso significa, pra mim.
E ao Ricardo, por todos os ensinamentos e pela parceria de sempre.

7 comentários:
Parabéns! Os tempos são novos, mas a nossa determinação pelo crescimento continua forte! Um texto bem formado, que junta nossos traços femininos à nossa força de luta cotidiana!
Um lindo texto, continua com uma linda caminhada amiga, preservando histórias e respeitando a ancestralidade.
Texto lindo!
Que texto maravilhoso!
Peço licença para usá_lo com meus alunos.
Parabéns!
Bjos.
Eu sempre vejo as suas fotos que registram a sua vida no campo e acho muito aprazível. No entanto eu não consigo dimensionar o quanto "custa" dividir o tempo da lida com a casa perfumada, a comida cheirosa (todas as questões domésticas), e todos os outros afazeres?!?! não seria acumular muitas atividades?! ou existe um acordo de divisão de tarefas (com os parceiros de vida), de todos os afazeres domésticos (que não acabam nunca), com a lida no campo!
A minha pergunta é pq aqui no nordeste quando a mulher vai para a lida no campo (na roça, com o gado...), ela continua a acumular dupla/tripla tarefa... e o que parece prazeroso acaba sendo muitíssimo cansativo!
Algumas o fazem pq ficaram viúvas com filhos pequenos pra cuidar...
PS. Sou trabalhadora (na cidade grande), e quando retorno pra casa tenho que lidar com tudo, todos os dias... as louças, as roupas, o pet, a limpeza da casa e vivo na luta comigo mesma pra ter meu tempo de autocuidado...
bjos, Ana! 🌹
Muito bem escrito Ana Lúcia!
Que lindo Ana, amei teu texto, muita verdade e sabedoria, lindíssimo!
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