30.11.13

A química dos imponderáveis

"A gente não ama com os critérios no lugar. A gente ama com o corpo. Ama mais as falhas do que as qualidades. Virtudes impressionam, alegram, encantam, mas, sobretudo, incomodam, e quando muitas, atordoam, se acumulam sobre as próprias carências, soterrando a admiração que um dia nos motivou o convívio com o outro.

Aí, num sopro, um passo equivocado do parceiro, e perde-se a linha em alto estilo. Acusamos o amado, ofendemos aquele que outrora nos encantava os dias, preenchia, complementava. Machucamos a criatura que amávamos, talvez, insuportavelmente. Coisa cruel o amor.

Não sei como se dá com os homens, mas numa mulher o corpo fala e diz bem alto. É assim: ela está ali desinteressada, poros fechados ao sexo, o foco em negócios diversos, passa alguém que não é seu tipo, um tipo improvável, esquisito. Ele olha, diz algo desestruturante, e... toim, o sino toca na Candelária, seu corpo balança, uma luz na espinha se acende, e danou-se tudo. Dali em frente, não há razão que coloque o trem sobre rodas, tudo já se desalinhou, e a mulher - desavisada e contente feito a insanidade – se faz refém de um troço cego sem rumo. O sangue que era pouco e irregular, jorra de novo nas pernas, espinhas brotam num rosto maduro, feronômios em ventania penetram suas narinas, as noites curtas se entrecortam de sonhos quentes. Ela tem 22 anos e pode tudo.

Mas e o outro que só estava passando e mirou de relance, por vício, quem sabe? Será que vai embarcar nessa máquina acelerada e febril?

Aí, minha cara, é com a sorte, com o destino, com deus... São coisas do amor, da química dos imponderáveis."

Maite Proença

Um comentário:

ana maria disse...

E a ventania nos varre para a química dos imponderáveis!
E-xa-ta-men-te, assim! <3
Bjs

Related Posts with Thumbnails