13.7.11

Somos a soma de tudo o que vivemos

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"Sei que há pessoas que não se interessam muito pelo que passou. Gente que vira as costas rapidamente para ontem e com rapidez ainda maior começa de novo, amanhã. Gente desapegada, que sai da vida dos outros deixando tudo para trás: móveis, afetos, objetos, fotografias, lembranças, meias...

Eu não.

A minha casa é o museu da minha vida. Quem passou por uma vai deixando sinais no outro. Fotos, cartas, entradas de cinema, meias...

Outro dia, procurando um documento, dei de cara com uma caixa azul cheia de cartas e bilhetes. Havia muita coisa antiga ali, de vários tamanhos e densidades. Fiquei bestificado e comovido. Mulheres apaixonadas ou desiludidas escrevem lindamente. Quando o amor acabou, quando aquela dor antiga já não faz mais sentido, o sentimento registrado em letra trêmula ou determinada ainda vibra – e nos transmite a sensação, deliciosa, de haver vivido. E ter estado em boa companhia."

"Ao contrário do presente, o passado não pode ser destruído ou alterado. Se tomar formas inocentes no presente – um quadro na parede, um comentário passageiro – isso é positivo. Demonstra uma saudável conexão com a própria biografia. Há algo de errado com as pessoas que encobrem seu passado como quem pinta a parede uma vez por ano. Por que é tão difícil confrontá-lo ou tão necessário evitá-lo? Melhor que ele exista e esteja em paz."

Texto do Ivan Martins, na íntegra, no site da Revista Época.
Imagem FFFFound!

Um comentário:

Anônimo disse...

Comentário tb da Revista Época:

"Ninguém apaga o passado
Quem entra num relacionamento já preocupado em apagar vestígios do passado do outro tem uma visão deturpada do que é se relacionar a alguém. Ninguém é propriedade do outro, ou um objeto de segunda mão encontrado num brechó. O que somos hoje é o resultado de tudo aquilo que passamos, inclusive os relacionamentos anteriores. E acho que uma relação dá certo quando você respeita o outro na sua inteireza, o que significa que você entende que o outro é uma pessoa completa, diferente de você, que se complementa à sua vida, e não algo desencaixado que precisa ser desinfetado antes de um novo uso. Quem fica fiscalizando a procedência dos objetos na casa do seu amor está à beira da histeria, né? Agora, ciúme, convenhamos, sempre existe, então se for possível deixar aqueles cartões do passado numa caixa bem-guardada, é só uma questão de delicadeza. "
(Natália)

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