6.4.10

A queda






"Já compararam o ato de apaixonar-se com jogar-se de um abismo: você sabe
que a queda é dolorosa, mas a sensação de pular, o frio na barriga, o vento no rosto, o sentir-se vivo, inteiro, faz tal loucura valer pena. Você está sozinho e procura por alguém. Fato: o ser humano não sabe ser sozinho. Procura sua metade, alguém que lhe faça bem, que o complete. Mas nessa busca (que não é fácil, muitos sequer conseguem terminar essa jornada) você acaba se deparando com questões complexas, como ‘O que eu realmente quero?’.
Mas vamos supor que você encontrou alguém. E você está naquela situação, empolgado, na beira do abismo, borboletas na barriga e tem que se decidir: pulo ou não pulo? O céu azul, o vento no rosto, a liberdade... Parece que uma força te puxa, te chama, diz ‘Pule, seja feliz!’.

E é nessa hora que você pode escolher. Pois sim, existe um determinado momento em que a gente escolhe se vai ou se fica, se damos a cara à tapa ou se puxamos o freio, se pulamos no abismo ou se damos meia volta.
A partir daí, sinto lhe informar, é por sua conta e risco.

E, normalmente, a gente pula. Sem verificar se existe rede de proteção, se temos asas, se sobreviveremos à queda. Pensamos apenas no céu azul, no vento no rosto, nas borboletas na barriga. Aquela sensação! Ahhhh, aquela sensação vale tudo!
Mas, muitas vezes, nos estabacamos no chão. Com força! E ficamos ali, machucados, expostos, desprotegidos... E dói. Dói muito. Até mesmo nos esquecemos que sentir aquela dor era um risco que estávamos dispostos a correr. E praguejamos, choramos, sofremos. Amaldiçoamos o abismo, o frio na espinha, as borboletas na barriga. Malditas borboletas, infelizes borboletas! Juramos que nunca mais, NUNCA MAIS vamos sofrer daquele jeito. Não vale a pena!
E juntamos nossos caquinhos, nos remontamos, nos reerguemos. Pois apesar de não nos acharmos capazes, nós sempre sobrevivemos. É nosso instinto, é humano.
Podemos nos refazer e ressurgir das cinzas.

Seguimos nossas vidas. Observamos as pessoas à nossas volta, deixamos que o tempo se encarregue de colocar as coisas no devido lugar. Até que num belo dia a lembrança daquela dor ficou pra trás. Estamos refeitos, trilhando o nosso caminho, a vida novamente nos eixos. E então surge um novo alguém que nos convida para um passeio...
Empolgação, felicidade e, sem nos darmos conta, estamos ali novamente, na beira do abismo, apreciando aquele maravilhoso céu azul, o vento batendo em nosso rosto, o frio na espinha, as borboletas na barriga... Ah, as borboletas na barriga! Que sensação maravilhosa!

E é nessa hora que você pode escolher. E então você pula novamente!
Afinal, você pode voar!"







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9 comentários:

Lúcia Soares disse...

Oi, Ana.
Eu tive a sorte de ter um amor duradouro. Um casamento de 35 anos, um homem que não me completou, porque eu já era inteira, mas se moldou a mim e me acrescentou.
Acho que se tivesse acontecido de perder um amor, não me arriscaria a voar de novo. Acho. Não sei como seria, mas o medo do sofrimento me tolheria, tenho quase certeza. E ficaria a pensar: "E se..." (aquele monte de questionamentos).
Ah, mas vale a pena ousar e acreditar que o amor é mil vezes possível, afinal, o sangue circula o tempo todo...Sempre é tempo pro ar faltar por instantes, do coração dar um pulo, do pulso acelerar...
Lindo o texto.
Bj

Mauro S disse...

Oi Ana, como vais?
Beijos, Mauro

Mauro S disse...

Pois é, Ana, nem todos são iguais!

Mauro S disse...

Oi Ana, de novo aqui e por causa sua entrei no formspring.me... ia deixar o blog lá, o endereço, mas veio com uma pergunta estranha que não reconhecia sei lá o quê e desisti de deixá-lo lá, está no Orkut, Facebook, MSN e por aí, nem sei se gosto que me perguntem, mas dependendo da pergunta, respondo ou passo, ainda não sei como funciona direito lá, você é a única que conheço e adicionei.
Beijos!
Mauro

Mauro S disse...

Verdade, a natureza escancaradamente vem dando sinais, e nada está sendo feito que eu veja... preocupante!

James Pizarro disse...

Viver é arriscar-se.
Viver é dar a cara para o tapa.
Viver é ser molusco andando no fio da navalha.
Viver é cortar-se.
Viver é ousar.
Viver é se esvair em sangue e dor.
Mas é também...
...acertar no escuro,
...levar carinho ao invés de tapa,
...cicatriz ao invés de ferida,
...virar estrela ao invés de porão,
...delírio ao invés de estertor,
...e ao invés do caos, a PAZ !

Beijo !

James Pizarro

Déia disse...

Oiiiiiiiiiiiiii

Eu sou daquelas que realmente se joga...e se a queda for ao chão, dói, sinto a dor, mas me levanto e em pouco tempo ja estou pronta pra voar de novo..

Pois não há nada melhor que voar!

bj

Ana disse...

Pois é...
Sangra, dói, entristece...
Daí, um belo dia, a gente vê que está curada, que tudo parece tão distante...
O problema é tomar gosto pelo vôo! Heheheh!

Adorei os comentários e emails!
Sempre me surpreendo e fico feliz com o retorno dos meus posts...

Obrigada!

Lú Albuquerque disse...

aiiiiiiiiii, Ana, querida!!!!!!!

me deu uma saudade de uma beira de abismo, de um jogar-se em queda livre... nem lembro mais como é...

já anotei na caderneta pra não esquecer: próxima encarnação menos seriedade e mais insensatez.

bjks

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