17.4.09

Doenças da Beleza

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Acabei de ler, na Revista Época, a entrevista com a psicóloga e pesquisadora Joana de Vilhena Novaes e fiquei muito impressionada! Entre outras coisas, ela afirma que “Mulher que se acha feia não transa”!
A loucura das pessoas atrás da perfeição física é pior do que eu imaginava! Virou doença, com vários desdobramentos: às clássicas anorexia e bulimia se juntam hoje a ortorexia, que é a compulsão por alimentos naturais, e a vigorexia, que é a dependência de exercício físico, entre outras (como a obsessão por cirurgias plásticas).
São, segundo ela, as Doenças da Beleza!

"É preciso acabar com o preconceito discriminatório que exclui quem é diferente do padrão imposto. Devemos reavaliar os nossos valores para que estes não sejam fundamentados em conceitos tão efêmeros como a imagem do corpo."


Leiam o que ela diz sobre as mulheres e a sua "liberação":
"Saímos de uma ditadura e partimos para uma revolução feminista, que é, ainda hoje, um marco histórico muito significativo. No entanto, o que é mais enigmático, nesse sentido, é que a mulher conquistou muitos espaços a que antes não tinha acesso, como, por exemplo, o mercado de trabalho. Nem por isso, deixou de desempenhar papéis clássicos, como o de mãe. Ou seja, a revolução feminista não transformou o papel da mulher, mas agregou funções a ela. Hoje, além de ocupar os espaços que conquistou, ela ainda precisa ser, além de boa, “gostosa”, precisando cuidar, constantemente, da aparência. Então, a mulher só ganha novos tipos de obrigação.

Mas o grande advento da liberação sexual é a liberação da mulher daquela idéia que a relaciona sempre à beleza e à feminilidade. Isso aconteceu devido ao advento do feminismo, ou, melhor dizendo, com as conquistas feministas. Este rompimento é a grande conquista feminista. O que normalmente não é dito é que, ao longo da história, há também padrões estéticos que aprisionam a mulher da mesma maneira que essa ditadura estética da beleza. Temos esse advento, mas, em termos históricos, há uma migração de uma ditadura para outra, ou seja, a mulher não está verdadeiramente livre de uma determinada ditadura. Hoje, por exemplo, ela recorre a práticas questionáveis para atingir um padrão de beleza. Não estou querendo satanizar, neste sentido, as práticas corporais, como as cirurgias, que realmente a rejuvenesce e melhora a sua auto-estima. No entanto, há uma variável muito opressora nesse discurso. As mulheres (desde a adolescente até a idosa) querem sempre se adequar a um determinado padrão estético e recorrem a algum tipo de recurso para que não se sintam excluídas. Isso é, sem dúvida, uma moralização da beleza e do corpo feminino. A responsabilidade que se impõe sobre o sujeito e sobre seu corpo acaba sendo uma espécie de moralização."

3 comentários:

Blog do Beagle disse...

Ana, ela falou sobre a mulher brasileira? Acho que ela referiu-se a uma pequena parcela das mulheres da classe AAA do Brasil. A mulher que cuida da casa, dos filhos, anda de trem, ganha um salário mínimo por mês, luta na fila do SUS para ter atendimento nem sabe que existem tratamentos diversos e carissimos para manter pele de adolescente após a menopausa. Plástica??? Essas lutadoras??? Para ser sincera, o que essa articulista disse não se aplica nem às minhas conhecidas, gente comum e trabalhadora da classe média. Mesmo assim, valeu conhcer outro ponto de vista. Bjkª. Elza

Ana disse...

Elzinha
Ela falou, sim, e fez uma ressalva às mulheres mais pobres, argumentando tudo o que vc disse.

Mas eu acho a grande maioria das mulheres, de todas as classes, persegue este ideal de beleza ditado pela mídia. O agravante é que as mais pobres não podem pagar pelos tratamentos e se sentem duplamente marginalizadas.
Afinal, o estereótipo da beleza está nas novelas, na TV, que todo mundo assiste!
Mesmo as mais pobrem alisam o cabelo, ficam loiras, usam as roupas da moda...
Ao meu ver, a exceção é para quem é muuuuito pobre, mesmo, sem acesso a qualquer tipo de informação e à televisão. Mas aí a autoestima delas vem de outros parâmetros, sei lá...
Há muita coisa em jogo e muita coisa a ser mudada!
Beijosss!

Ana disse...

Ela disse:
"A necessidade de se adequar aos padrões está acabando com a autoestima e a libido dessas mulheres. Trata-se de uma cultura opressiva. Se ela não se sente esteticamente adequada, desejada, então reprime sua sexualidade. As cirurgias plásticas podem ser boas quando elevam a autoestima da mulher. Mas rapidamente surgem novas insatisfações. Essa necessidade de adequação causa muito sofrimento. Nas comunidades de baixa renda, não acontece dessa forma."

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