Visita do S.Romeu e D.Petronilha!
Churrasco com amigos queridos...
"Donairo, um saludo guasca
Nos primeiros dias de maio o destino me premiou com alguns afetos que, ainda que eu não o seja, integram e se apresilham na parceria de Chico Valério, patriarca de grande e distinta família lavrense, gabrielense, sepeense, e da região: o meu filho, Balthasar, o meu neto, do ramo de Balthasar Teixeira da Silveira, e meu amigo José Donairo Teixeira, do ramo de Valério Teixeira Neto.
Balthasar e Valério eram irmãos. Meu filho e meu neto já comemoraram, Donairo vai comerar natalício daqui uns dias.
Quero mandar um saludo especial ao Donairo, a quem não vejo faz certo tempo. Mas a natureza tem essa magia, não precisamos ver nossos afetos diariamente porque eles estão arquivados no coração, e não os queremos menos porque estamos longe.
Gaúcho sereno, articulado, orientador, conselheiro, discreto, nasceu dentro de um banco tamanha era a fortuna do seu Valério, mas nunca fez barulho por isso, e gostava muito de vestir as suas bombachas remendadas pelo uso no trabalho. Tradicionalista, essas bombachas, e as outras foram modeladas de bombachas deixadas pelo seu Valério, assim como mandou pendurar nas Cordilheiras, após sua morte, o cepo onde ele sentava e o pega-brasas com que acendia seus palheiros para que ninguém mais os usasse. Lá no galpão também está a Ford F-100 a última que dele ganhou, quieta. Um culto particular de apreço e saudade.
Cumpriu à risca a missão que lhe deu o pai: vais ser o líder dos negócios da estância; e foi. O que recebeu, aumentou. Teve a convicção que o seu destino era continuar montado na garupa do vento – e eu repito Aparício da Silva Rillo – sendo veio, flete, lenço e laço, posteiro, berço, cancha, rancho, razão, destino, estrada, massa, raio e cambão, alvorada e sol poente. Aprofundando nas sesmarias, nos campos em flor, os trilhos abertos pelo pai do pai do seu pai.
Pelo teu aniversário, parabéns, Donairo.
Sem precisar mutilar o Bioma do teu Pampa, nem desonrar as bombachas do teu pai, nem assassinar os cardeais e os joães-de-barro das campinas com a lama pagã dos apátridas, glamourizada por seus puxa-sacos vão rareando os esteios do pago, homens discretos como tu, que, sem renegar seu passado, continuam montados na garupa do vento e fazem o futuro. Vai um saludo guasca."
Aloísio Severo, maio de 2019.
"Hoje eu fiquei pensando em quantas vezes, desde que me tornei mãe, já escutei a frase “não pause sua vida pelos filhos pois eles um dia crescem” ou alguma variação dela, repetida, ainda que não intencionalmente, como uma forma disfarçada de escrutinizar e menosprezar a dedicação materna. Se cria filho pro mundo, todo mundo diz. As asas, as benditas asas. Eu sei, você sabe.
Não pausar a vida. Ideia curiosa essa já que ser mãe é viver eternamente de pausas. Por 9 meses (ou mais) a gente pausa o vinho. Por aproximadamente 40 dias (mas provavelmente bem mais) a gente pausa a vida sexual. Por muitas e muitas noites a gente pausa o sono. A gente pausa a reunião de trabalho, a ligação importante, a promoção. A gente pausa a poupança porque juntar dinheiro fica difícil. A gente pausa as refeições e os banhos. A gente pausa os planos de viagens, as saídas com as amigas, as idas ao cabeleireiro. A gente pausa o coração na preocupação e a gente pausa a própria vida pra respirar a deles.
Criar para o mundo. O que isso seria? Suponho que minha mãe me criou “para o mundo,” sempre me dando asas. Saí de casa aos 14 anos e aos 18 saí do país. Fui conquistar esse mundão para o qual ela me criou. Mas a verdade é que eu nunca deixei de ser dela. Um pedaço dela. Um produto dela. Tão dela que mesmo com mais de 30 anos, eu ainda preciso que ela pause a vida dela por mim. E ela pausa. Passa 2, 3 meses aqui, vivendo minha vida. Ela pausa com a generosidade de quem é acostumada a pausar e doar e amar e amar e amar.
Então eu penso que filhos não são do mundo. Nossos filhos são nossos! Eles vieram da gente e voltam pra gente de novo e de novo. Mesmo estando longe, eles são nossos. Nossos pedaços. Nossos produtos. Os produtos de todas as nossas pausas. Porque é na pausa que fortalecemos o vínculo, é na pausa que construímos as memórias. É no pausar da vida, nesse incessante viver pelo outro, em meio as dores e sacrifícios que, como mulheres, muitas vezes nos vemos plenas; e mais do que isso, nos vemos mães."
"Existe uma pressão para separar mãe e bebê, o quanto antes. Um bebê precisa, rapidamente, se tornar emocionalmente independente. Dar colo, fazer carinho, balançar e aconchegar, é sinônimo de estragar. É acostumar mal um serzinho que não segura o próprio pescoço, que mal enxerga, que nunca sentiu frio, calor, fome, que não entende nem mesmo nossa linguagem verbal. Acostumar bem é ensinar a se virar sozinho, pois a vida é dura e ele precisa saber que as nossas emoções são nossas e de ninguém mais. É óbvio que o bebê que passa horas no carrinho, no berço, no bouncer, irá se acostumar. Resmunga, choraminga, faz uso dos únicos meios de comunicação que possui, e se não é atendido, se conforma. O ser humano se adapta, questão de sobrevivência. E assim, acredita-se que atender as necessidades emocionais de um filho é sinal de fraqueza, tanto da mãe quanto da criança. Essa prática vai contra tudo que a ciência nos diz. Abrace, enxugue as lágrimas, cheire a nuca, cante, passe os dedos pelos cabelos e vá contornando até às voltinhas da orelha. Carregue no colo, no sling, na cadeira de balanço. Não perca a oportunidade de demonstrar amor da forma mais eficaz possível: o toque. Não caia nesse conto de que amor e educação não podem caminhar juntos. Confie no seu instinto. E não pare nos primeiros meses. Faça cafuné no de 2 e no de 6. Dê beijos estalados de bom dia. Encoste seu menino no peito a qualquer hora da tarde. Com o tempo, inevitavelmente, seu filho ganhará o mundo sem você. Eu te garanto, que uma hora (e essa hora é sempre cedo demais), seu pequeno seguirá em frente sem precisar das suas mãos ou do seu olhar. Ele andará sozinho com passos firmes. E será movido não por desespero, por falta de opção ou por necessidade, mas pela força da confiança. É verdade que acostumar "bem", dentro dos valores invertidos da sociedade, cria pessoas independentes. Porém, é o acostumar "mal", o suprir necessidades emocionais com amor, que podemos criar pessoas confiantes e bem resolvidas. E entre a primeira e a segunda batalha, eu prefiro a segunda. Hoje e sempre."
Receita e fotografia de Fábio Neiva. |