11.5.14

Minha mãe



"Você sempre será uma criança enquanto tiver uma mãe a quem recorrer.” 
(Sara Jewett)

Acho que, de um jeito muito egoísta, isso é o que me dói mais. Não tenho mais minha mãe, apesar dela continuar próxima, fisicamente.

Na verdade nunca tive muito colo ou aprovação. Nossas diferenças sempre foram visíveis, sempre pensamos de forma divergente, tivemos temperamentos opostos. O bom humor é que nos salvava. Mas, com o passar do tempo e a chegada dos netos, as diferenças se amenizaram, ficamos mais próximas. Ela se tornou uma avó fantástica, insuperável!

Só que agora, depois de tantos anos de depressão (ou seja lá qual a sua enfermidade), ela perdeu o brilho, a vitalidade, a alegria... Se escondeu, num lugar onde não alcanço - ou onde ela não me permite chegar. E isso dói, é difícil de aceitar.

Sinto culpa, sinto tristeza, sinto ressentimento, tudo misturado e ao mesmo tempo. É incompreensível. É difícil de lidar e de conviver. Os netos sentem falta da sua vitalidade, da casa alegre, das brincadeiras que inventava...

Meu pai se mantém ao lado dela, muitas vezes cansado, no limite. Impressionante a força que ele tem! Felizmente, conta com a ajuda da Beatriz, que trabalha, com eles há mais de vinte anos, e é cheia de paciência (que eu nunca conseguiria ter), além das outras empregadas, que se revezam, e da moça que passa a noite com ela.

É difícil conviver com a minha mãe! Se comporta de um jeito que afasta as pessoas. Se lamenta, se queixa, reclama, em alguns momentos. Em outros, culpa todo mundo pelo que está sentindo. Está completamente dependente, para as coisas mais simples, do cotidiano: comer, tomar banho, se vestir, caminhar... Embora sua sua saúde física permita que ela faça o que quiser, tem dias que não quer nem abrir os olhos... Ao mesmo tempo, sabe tudo o que está acontecendo, à sua volta, e exerce um certo controle. Memória preservada, responde ao que perguntamos... Tudo isso me deixa sem saber o que pensar ou fazer.

Tem coisas que simplesmente não entendo. E eu sempre me pergunto, onde foi parar a alegria da Dona Célia. O quê seria possível fazer, por ela, que ainda não tenha sido tentado? Que médicos consultar, que remédios poderiam ajudar? Reiki, passes, rezas, orações, que ainda não tenham sido feitos?

Sentimento de perda. Impotência. Tristeza. Amenizado por alguns momentos, em que ela volta a interagir, como nas fotos, abaixo (agosto/2012). Uma pena que sejam cada vez mais raros...



Sobre perdas e relações familiares, recomendo a leitura deste texto, do Rubens Filho: "No Dia das Mães, a saudade me pega". Entre outras coisa, ele diz: "Para mim, somos todos precários e suscetíveis. Deixemos as emoções chegarem, elas nos aproximam de nós mesmos, nos "perdoam", nos fazem compreender (aceitar) melhor os absurdos da existência e a lidar com nossa condição de solitários mesmo em convívio social.".

Leia, também "Esses filhos perplexos diante da velhice dos pais". Ajuda a entender que não temos o direito de interferir nas escolhas dos nossos pais, mesmo quando estiverem velhinhos, mesmo com a melhor das intenções.

3 comentários:

Liziane Alves Dotto e casada, Castro disse...

Ana
Sabe que não estamos no mundo para mudar, mas para aprender, convivi com a minha avó, amor da minha vida, que era assim. Desafiava a minha essencia, desrespeitava aos que estavam por perto (os que aguentavam) foi triste, mas era ela, a vida dela, e no fim a gente aprende muito com o exemplo negativo: como não fazer. Aceite, trate a situação com respeito, aceite... um beijoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

ana maria disse...

Leio tuas palavras e entendo. Há uma sensação de que algo poderia ser feito. Mas, nem sempre há. Por vezes é assim que é e os sentimentos se misturam. Que haja mais dias de vitalidade e alegria na vida dela. Beijo

Ana disse...

Obrigada, Liziane!
Obrigada, Ana Maria!

Tenho aprendido tanto, com vcs!!
Grande beijo!

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