Nos anos 70, ler Bruna Lombardi, com seus versos carregados de um erotismo provocante, mexeu com minha cabeça! Heheheh! Tive consciência disso ao ler esse artigo, escrito por ela, recentemente:
O erotismo da nova mulher
Bruna Lombardi
"Sempre escrevi sobre o desejo, a sensualidade, o erotismo como a forma mais libertária da existência. Aquela que não obedece lei nem censura, mas cria a sua própria escala de valores. O sexo como chave da liberdade.
Quando publiquei meu terceiro livro de poesia, O Perigo do Dragão, VEJA me pôs na capa. O tema do desejo da mulher foi tratado de forma elegante e inovadora numa reportagem que se baseava na poética feminina, partindo do meu trabalho e cobrindo um arco que ia de Adélia Prado a Alice Ruiz.
Esse livro fez e faz muito sucesso até hoje nas redes sociais talvez porque o erotismo da mulher continue o mesmo. Mas muita coisa mudou. Inclusive as mulheres.
Na época me surpreendi muito com a extraordinária repercussão de um simples livro de poesias, que foi cultuado por pessoas muito diversas – do poeta Paulo Leminski, que publicou uma resenha na própria Veja ("Bruna continua praticando uma espécie de humor irritado, que é sua marca – herança talvez de vovô Carlos Drummond de Andrade, cuja poesia ela parece ter frequentado com prazer e proveito. Esse humor irritado está a serviço de uma 'mulheridade' assumida ostensivamente, que é muito melhor que qualquer postura política"), ao dono das Organizações Globo, o jornalista Roberto Marinho, que assinou uma crítica sobre O Perigo do Dragão em seu jornal. Foi um marco para a poesia, para as mulheres e para mim. Mesmo que eu já tivesse sido capa de centenas de revistas, dessa vez o significado era outro. A revista mais influente do país dava destaque para a mais clandestina das artes. E a mais íntima.
Hoje a poesia está de volta com força, há muita gente novamente interessada em versos bonitos (uma antologia de Paulo Leminski, Toda Poesia, está nos primeiros lugares entre os mais vendidos). E o sexo anda livre e solto em qualquer lugar. O que antes as mulheres confidenciavam, hoje é exposto abertamente. Centenas de livros sobre o assunto rodam por aí, zilhões de sites pornô se espalham na internet, há uma sex shop em cada esquina, mulheres trocam de par como quem troca de roupa e nas baladas ficam com vários parceiros. E se alguém criticar esse excesso, saiba que tudo isso é muito melhor do que a repressão.
Enfim, a liberdade chegou. E com ela sentimentos contraditórios. Nunca se viu tanto vestido de noiva, tanta busca de príncipe encantado, tanto romantismo confuso, tanta oferta, tanto desejo, tanta solidão. Impossível generalizar as mulheres – existem todas. Impossível criar um comportamento padrão para a era da diversidade de comportamentos. Para alguns nunca houve tanta vulgaridade; para outros, essa livre mulher continua submissa e só mudaram as regras.
Seja como for, a sensualidade sussurra, não grita. O erotismo atravessou civilizações e é uma grande arte. A arte do sexo permeia a história da humanidade, cria mitos através dos tempos. Culturas antigas deixaram legados, com seus mistérios e rituais. Preservar seus requintes deveria ser um bem sagrado como os segredos das sacerdotisas. Práticas orientais existem para tentar ensinar e relembrar pessoas a respeito de uma sabedoria que possivelmente faria do mundo um lugar pacífico e encantado.
Muito desse conhecimento foi perdido desde a destruição biblioteca da Alexandria até todas as fogueiras da Inquisição. O poder tem medo. Pessoas felizes não são facilmente dominadas.
Hoje, nossa sociedade é pragmática e essencialmente consumista. Consumir sexo pode ser mecânico como qualquer outra compra. Mesmo que divirta e entretenha, mesmo que distraia e iluda. Há homens e mulheres consumindo sexo. Em algum momento nos fizeram acreditar que estávamos comprando felicidade. Quando na verdade, a felicidade é que é a moeda definitiva.
Tenho falado de felicidade no meu trabalho porque acredito nela. E acredito que o sexo está intrinsecamente ligado a ela, assim como está intrinsecamente ligado à nossa emoção. Dizem que os homens fazem sexo e as mulheres, amor – brinco com isso. Pode até acontecer o contrário. Mas às vezes esses paradigmas são quebrados e se misturam e aí sim, acontece o novo.
No momento estou filmando Amor em Sampa e minha personagem, Aniz, tem um encontro de puro sexo. Meu novo livro de poesia, ainda inédito, chama-se Clímax, título de um poema que descreve orgasmos múltiplos. Isso mostra que o tema da minha capa em Veja não foi pontual, mas acompanha minha vida e meu trabalho.
O que me atrai no sexo não tem nada a ver com o consumo. Tem a ver com um ser humano melhor. Mais feliz. Tem o desejo de lembrar cada um de nós que viver apaixonadamente faz uma enorme diferença. Que ser movido a toda espécie de amor é uma atitude transformadora. Tem a ver com a frase do Ghandi: "Seja a mudança que você quer ver no mundo".
Fazer sexo é muito bom. Fazer sexo com amor é o nirvana. E, ao contrário do que reza a lenda, ele permite a entrada no paraíso."
Um comentário:
Aconteceu comigo qdo li "O Perigo do Dragão". Gosto dela! bj
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