21.2.23

Impermanência / Eternidade

Em dégradé          
"Algumas preciosidades morrem baixinho, em dégradé. Como morrem as tardes. Como morrem as flores. Como morrem as ondas. Quando a gente percebe, já é noite e o céu, se está disposto a falar, diz estrelas. Quando a gente percebe, as pétalas já descansam o seu sorriso no colo do chão. Quando a gente percebe, o canto da onda já enterneceu a areia. Muitas dádivas que nos encontram e encantam têm seu tempo de viço, sua hora de recado, e seu momento de transformação em outro jeito de lindeza.

A noite também é bela do jeito dela. As pétalas caídas viram húmus para fertilizar o solo que dirá a vez de outras flores sorrirem. A areia molhada conta a canção da onda e da sua acolhida terna para a nossa vida descalça. Lutar contra a impermanência é como tentar prender o azul macio das tardes, segurar o viço risonho das flores, amordaçar as ondas: inútil.

Costumamos esquecer que não podemos impedir a mudança. Tudo dança a coreografia sábia e implacável da impermanência, mas a música daquilo que verdadeiramente nos toca com amor não deixa mais de viver de algum jeito no nosso coração."

 👉Ana Jácomo 

Na terça-feira, última noite do carnaval, perdemos a nossa querida Lígia Bulcão Teixeira.
Minha prima, minha comadre, minha amiga querida...
Dedico este texto, da Ana Jácomo, para a minha afilhada, Clarissa, com todo o meu carinho.

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails